Economistas ouvidos pela CNN demonstram preocupação com o cenário e alertam para efeito "bomba-relógio".
Para 2025, a meta do governo é alcançar um déficit primário zero, ou seja, de equilíbrio entre receitas e despesas primárias. No entanto, a Warren prevê um déficit de 0,6% do Produto Interno Bruto (PIB) para este ano, considerando os gastos de fora da meta.
Entre 2023 e 2025, os gastos extras devem somar cerca de R$ 324 bilhões. Grande parte do valor foi descontado em 2023, após aprovação da PEC da Transição e com o pagamento de precatórios, que contribuíram para a maior parte do montante, com R$ 241,3 bilhões.
Em 2024, houve um recuo desses valores para R$ 33,8 bilhões. Para este ano, a expectativa é de que cerca de R$ 49,3 bilhões fiquem de fora das regras fiscais.
Na avaliação de Sergio Vale, economista-chefe da MB associados, a trajetória fiscal recente demonstra que o país não tem conseguido lidar de forma adequada: "estamos montando uma bomba-relógio que, em algum momento, um governo terá de resolver", disse.
Para o especialista, a falta de realidade com a questão fiscal e a dificuldade de entendimento por parte do governo corroboram para a leitura de que as possibilidades estão esgotadas é que será necessário um ajuste significativo.
A avaliação é de que essa "bomba" seja empurrada para o governo que assumir o poder em 2027, seja ele qual for. Vale não enxerga que reformas estruturais sejam feitas agora ou em 2026 pela proximidade com as eleições.
Já Murilo Viana, especialista em finanças públicas, reforça a dificuldade que o país tem tido nos últimos anos para avançar com reformas das contas públicas.
"Desde o período da Dilma encaramos um déficit fiscal significativo, e fomos cortando as despesas discricionárias, enquanto as obrigatórias seguem crescendo, o que resulta a crise fiscal do governo para além da dificuldade política em fazer uma reforma estruturante dos gastos", afirmou à CNN.
Viana lembra do aumento substancial de valores que ocorreu durante a aprovação da PEC da Transição, que permitiu ao governo elevar em R$ 145 bilhões o teto de gastos no Orçamento de 2023 para bancar despesas como o Bolsa Família, o Auxílio Gás, a Farmácia Popular e outras políticas públicas.
"Sou bem cético quanto a um ajuste estrutural das contas públicas antes da eleição. Mas independentemente de quem ganhe, vai ter que fazer uma reforma, porque o arcabouço do jeito que está não aguenta até o fim de 2026", argumentou.
O economista-chefe da Warren Investimentos, Felipe Salto, reitera que apesar de grave, o Brasil está longe de um quadro de insolvência.
Na avaliação dele, o Congresso também tem responsabilidade com as contas públicas por aprovar medidas a longo dos anos que elevaram os recursos destinados à emendas parlamentares.
Segundo o economista, Haddad tem tentado revisões em benefícios tributários, o que é importante, no entanto, ações pelo lado da despesa têm ficado em segundo plano. Salto também enxerga um grande desafio fiscal pela frente e que irá se sobressair em 2027.
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